sábado, 26 de dezembro de 2015

O primeiro natal que não deu certo: uma reflexão para o outro natal.

Por Jony Bigu

Esse post está atrasado. Deveria ter sido feito semana passada. Mas lido agora, você poderá aproveitar seu próximo natal. Ontem à tardinha uma criança na rua me desejou feliz natal depois de receber uma moeda. Por um instante pensei em como seria o natal daquela criança. Mas o sinal abriu e o mundo insensível me furtou daquela reflexão. Depois de comer bastante e ficar empanturrado me lembrei daquela criança. Será que o natal dela deu certo como o meu? Ou deu errado? E existe natal que dá errado? Depois de pensar um pouco, vi que nem sempre algumas celebrações saem como o planejado.
Lembro de certo casal que viajava pelo território palestino. O nome deles era José e Maria. Maria estava grávida. Desde o início de sua gestação, José se mostrou muito responsável, pois recebera uma revelação de Deus falando que a vida no ventre de Maria era obra do Espírito Santo.
Não sei quais eram os planos de José. Eles precisavam fazer essa viajem para responder um censo pedido pelo imperador romano. Mas será que daria tempo? Não sei, mas acho que José não planejou o nascimento de seu filho da forma que foi. Que pessoa responsável em sã consciência planejaria ter um filho numa cidade estranha, pequena e sem ter nenhum parente ou conhecido? Quem planejaria ter um filho num estábulo junto com vacas e ovelhas? Por que não esperar mais um pouco para dar tempo voltar para casa? Ou mesmo para chegar em Jerusalém, cidade com maior estrutura para receber visitantes?
Não! Não deu certo! O menino inventou de nascer num momento inoportuno. O casal não encontrou hospedaria em Belém. Não houve quem oferecesse um compartimento de sua casa, ou mesmo um quartinho nos fundos. O casal teve que se virar. Nascer numa manjedoura não foi um detalhe para que a história ficasse mais emotiva. Como falamos aqui no Ceará, nascer ali foi o jeito mesmo. Jesus não seria menos Deus se nascesse com todos os cuidados possíveis para aquela época. Se tivesse melhores condições para o nascimento do menino, certamente José teria escolhido. Mesmo naquele local inadequado, a alegria estava estampada no rosto do casal. Sorriso que está eternizado nos inúmeros presépios mundo a fora. Outros convidados apareceram. Pastores e até reis foram visitar o menino pobre que nasceu em Belém. Se a festa precisava de convidados agora não faltava mais. Além de Deus providenciar um coral de anjos para jubilar o nascimento do menino.
Voltando à história do menino no sinal, acho que o natal dele não deu muito certo, como o do menino que nasceu em Belém. Oro para meu Deus, para que no próximo natal eu não seja como as famílias de Belém, que não se importaram com a aflição daquele pobre casal, mas que eu seja como os pastores, os anjos ou os reis do oriente para participar e estar junto daqueles cujo natal deu errado.

sexta-feira, 6 de novembro de 2015

O EVANGELHO PARA UMA CIDADE DESIGUAL: os desafios socioambientais


“Cuidar do meio ambiente é, para mim, um compromisso de vida, um ministério. Não um ministério no sentido eclesiástico ou teológico, mas um ministério que tem suas raízes no cristianismo.” Mariana Silva
“No princípio criou Deus os Céus e a Terra” Gn 1:1.
Introdução
O relato da criação descrito no primeiro capítulo de Gênesis mostra-nos um detalhe importante. Deus cria um mundo harmonioso a partir de uma realidade caótica. A terra “sem forma e vazia” vai ganhando condições de habitabilidade. Flora e fauna são criadas e colocadas à disposição do homem. A história é testemunha de que temos sido negligentes com o meio ambiente. Flora e fauna têm sofrido prejuízos irreparáveis, e nós estamos sentindo na pele os impactos do desequilíbrio ambiental.
O processo de destruição do meio ambiente se acelerou desde a Revolução Industrial no século XVIII. Além do uso mais intenso dos recursos naturais, o grande crescimento das cidades sem o aumento das infraestruturas urbanas colocou a população em condições sanitárias bastante precárias. Rios e riachos que ocupavam o sítio urbano foram poluídos, tornando-se esgotos a céu aberto, ou foram desviados, canalizados, assoreados, ou simplesmente desapareceram por serem aterrados. Houve também um aumento significativo de lixo. O resultado desse aumento foi o acúmulo desses resíduos em lixões, sem o tratamento adequado. Séculos já passaram e ainda hoje a cidade sofre com esses problemas.
Os problemas ambientais são problemas sociais.
A afirmativa acima é um elemento importante. Somos parte da criação como um todo e devemos compreender que os problemas ambientais significam muito mais que um desequilíbrio ecológico; ele é, antes de tudo, um problema social nas cidades. Serão as pessoas mais pobres que sofrerão de forma mais árdua os problemas ambientais urbanos. Basta fazermos algumas perguntas: que classe social mora próxima a leitos dos rios em seus trechos mais degradados e poluídos? Quem mora vizinho a lixões? Que população habita próxima às áreas industriais e sofrem diariamente com a poluição? O sistema de saneamento ambiental (água, esgoto, resíduos sólidos e drenagem urbana) nas cidades é distribuído com equidade? Não precisa nem responder. Nós já sabemos a resposta.
O fato é que estamos reproduzindo uma cidade em que algumas pessoas pagam mais caro por um erro de todos. Isso configura uma desigualdade e uma injustiça. E o pior: quem paga mais caro é a parcela da população que mais necessita de ajuda. Somos, enquanto sociedade, culpados por essa desigualdade. De alguma forma, nós corroboramos com esse sofrimento dos mais pobres.
Mas por que não percebemos isso?
Historicamente, negligenciamos muito as questões ambientais. Aliás, vários críticos apontam o cristianismo como um sistema que não dá importância às questões ambientais. Para eles, os cristãos não se importam com os elementos da natureza, assim como fazem as religiões de matriz africana. Os sistemas religiosos de matriz africana apresentam grande devoção aos fenômenos naturais. Eles mostram reverência e devoção aos elementos naturais. Eles os respeitam e os temem.
O monoteísmo judaico-cristão adora a um Deus pessoal que é totalmente diferente e independente das coisas criadas. Ele não se confunde com suas criaturas. Além disso, preterimos a ideia de dar grande importância às criaturas. É claro que Deus não está consubstanciado na natureza, como prega o panteísmo, todavia, as criaturas de Deus proclamam sua glória. Como propôs o salmista: "Os céus declaram a glória de Deus; o firmamento proclama a obra das suas mãos" (Salmo 19.1). Se os céus declaram a glória do pai, a negligência de nossa sociedade a deturpa com uma grande quantidade de poluição jogada na atmosfera e no aumento do buraco na camada de ozônio. O pecado de nossa sociedade a impede de ver com clareza a glória de Deus na criação. Todavia, devemos acreditar que a glória do Senhor encherá toda a terra (Nm 14:21).
Assim na terra como no céu.
Outro fator que nos fez negligenciar nossas responsabilidades terrenas foi nossa busca desenfreada pelo céu. Quando pensamos em aquecimento global, enchentes nas cidades, surto de doenças em comunidades pobres que moram próximas a rios, ou deslizamento de terra que acabou com dezenas de casas construídas sobre um antigo lixão, pensamos no Reino do porvir. Nossa presunção e egoísmo não nos deixa enxergar que também temos nossa parcela de culpa. E ao invés de repensar sobre nosso papel na construção da sociedade, alguns usam essas catástrofes para pregarem um “evangelho” do medo a fim de “converter” as pessoas.
O Reino de Deus se realiza tanto nessa terra como no porvir. A vontade de Deus deve se manifestar tanto aqui como céu. O equilíbrio e a harmonia que ansiamos no céu, devemos ansiar para a terra também.
A nossa cidade
Assim como nas outras capitais do país, a cidade de Fortaleza apresenta um cenário de vulnerabilidade para um significativo número de seus habitantes. Os casos mais emblemáticos são das comunidades que vivem próximo aos leitos dos rios. A maior parte dessas comunidades está nas margens do rio Maranguapinho, que corta um trecho significativo da periferia sudoeste de Fortaleza. Aliada à precariedade social (é nessa área em que se encontram os bairros mais pobres da cidade), a vulnerabilidade ambiental intensifica o processo de exclusão das pessoas mais pobres que moram nessas comunidades. Além das comunidades do Maranguapinho, alguns casos próximos ao rio Cocó e ao litoral (principalmente o oeste) da cidade também apresentam sérios problemas socioambientais.
Em suma
O entendimento de nossa cidade é o primeiro passo para refletirmos sobre nossa fé e nossa relevância social considerando toda criação de Deus. Algumas pessoas estão sofrendo mais por conta do desequilíbrio causado por todos nós enquanto sociedade. Além de estender a mão a estes desditosos, é necessário lutarmos contra toda essa produção desigual do espaço em nossa cidade. Deus nos abençoe. 

sábado, 26 de setembro de 2015

O Evangelho para uma cidade desigual: o caso de Babel.


Depois disseram: "Vamos construir uma cidade, com uma torre que alcance os céus. Assim nosso nome será famoso e não seremos espalhados pela face da terra". Gn 11:4
“Os sentimentos mais genuinamente humanos logo se desumanizam na cidade.” Eça de Queirós
INTRODUÇÃO
Diversas críticas já foram feitas aos sistemas religiosos por estes insistirem na separação entre sagrado e profano. Essa separação é vantajosa aos líderes desse sistema, pois, ao desvincular a prática cotidiana da prática espiritual, permite que grande número de fiéis se transforme em pessoas comuns, ao passo que os líderes se “especializam” em práticas espirituais e se tornam indivíduos diferenciados das pessoas comuns.
Outro fato que é resultado dessa separação é quanto à relevância dos templos. A prática religiosa tornou-se essencialmente uma prática entreparedes. O templo passou a ser o lócus da prática religiosa. É claro que várias organizações religiosas estabelecem programas fora do templo. Programas geralmente voltados para um público de pessoas que não faz parte de seu ciclo religioso. São programas proselitistas. Quando estes programas extra templo não conseguem direcionar as pessoas ao templo são tratados como fracasso.
Desse modo, pensar a prática religiosa na rua é algo bastante complicado no atual contexto religioso. Para muitos a rua é local da vadiagem, as esquinas são locais perigosos, ocupadas por pessoas violentas, mas não local de adoração e louvor a Deus. A cidade é totalmente negligenciada e esquecida.
Esquecemos que a cidade é construída socialmente por todos nós. E ela é apenas a materialização de nossas práticas sociais. A cidade é violenta porque pessoas são violentas. A rua é deserta porque pessoas não a ocupam. A cidade é desigual socialmente porque nós reproduzimos essa desigualdade. Quando tememos a cidade, tememos nossa própria condição de homens.
Se levarmos nossa prática religiosa para rua, ao invés de a restringirmos ao templo e aos nossos encontros, poderemos transformar o estado de vulnerabilidade social e ambiental de nossa cidade. Isso só acontecerá quando admitirmos que o Reino de Deus é maior que nosso ciclo religioso. Admitirmos que Deus é o Senhor de tudo e de todos. Admitirmos que todos podem ser “cidadãos” do Reino do Pai. Se nossa relação com Deus pode nos transformar, então também podemos transformar a cidade!

Uma cidade desigual: o retrato da negligência com o meio ambiente e com o próximo.
O relato de Genesis 1 e 2 mostra um Deus criador prezando e responsabilizando o homem pela sua criação. De uma terra caótica, “sem forma de vazia”, Ele estabelece um equilíbrio entre os seres vivos. O pecado é quem desfaz o equilíbrio pensado por Deus. Uma sociedade desiquilibrada é resultado do pecado.
Os problemas sociais de nossa cidade só mostram nossa negligência em não observar os princípios da criação e o amor ao próximo. Falamos de “próximo” aqui considerando toda humanidade.
A cidade de hoje é bem diferente da que imaginávamos há algumas décadas. Com os avanços na tecnologia, na política e nos direitos individuais, poderíamos ter construído a cidade marcada pela liberdade, igualdade e fraternidade. Cidade onde todos tivessem oportunidades de emprego e acesso à cultura e ao lazer. Mas fizemos justamente o contrário. Construímos a cidade da competição. Na cidade não há espaço para todos. Uns devem morar bem, outros devem se sujeitar à precariedade e sobreviver em condições muito ruins.
A competição gera solidão. Não é difícil encontrar pessoas que não se relacionam com seus vizinhos ou até nem sabe seus nomes. Não há comunicação. Poderíamos até dizer que a cidade de hoje é uma grande Babel. Aquela velha história do povo que se reuniu numa planície nas terras da antiga Mesopotâmia para construir uma torre, como relata a Bíblia. Eis aqui algumas semelhanças.
Babel era um grande ajuntamento humano, todavia, não havia comunhão nenhuma entre seus habitantes. Não são raros os casos de pessoas que moram em certo local e não conhecem seus vizinhos. Os ônibus circulam lotados de pessoas que parecem viver sozinhas com seus mundos criados a partir de seus fones de ouvidos. Os smartphones parecem também criar vários universos paralelos. Nossa cidade é uma das mais populosas do Brasil, mas conseguimos em poucos minutos falar o nome de todas as pessoas com as quais nos relacionamos cotidianamente.
Babel era a clara expressão do orgulho humano e da autoproteção. Os habitantes de Babel sonhavam em construir uma torre que chegasse aos céus. Queriam ser grandes, únicos e poderosos. O testemunho da história nos fez saber que seu tempo passou. Outros povos poderosos surgiram e deixaram de existir como Babel. Nosso orgulho e egoísmo podem fazer sucumbir nossa sociedade. E nem adiantou queimar bem os tijolos e colocar betume. Nossa autoproteção nos faz evitar contatos. Faz-nos desconfiar de tudo. No final, ficaremos apenas nós e nossa autoproteção.

E agindo dessa forma, estamos construindo uma cidade desigual. Uma expressão clara de nosso pecado. A desigualdade de social em nossas cidades, assim como em outras cidades, é resultado de inúmeras relações sociais como as citadas em Babel. Fomos nós que reproduzimos isso. Pensar nossa cidade de outra maneira pode ser uma alternativa para juntos construirmos um modelo de cidade não semelhante à Babel. Deus nos abençoe.

sexta-feira, 17 de julho de 2015

O dia que Deus usou a banda Engenheiros do Hawaii para despertar meu coração.

“Seria mais fácil fazer como todo mundo faz!” Foram essas as palavras que mexeram comigo. Ela é parte de uma música da banda Engenheiros do Hawaii. Ao ouvir, fiquei pensando como minha vida poderia ser diferente na minha antiga igreja se eu tivesse feito diferente. Na verdade, feito igual à maioria. Feito o que todo mundo faz.

E se eu tivesse ficasse calado diante da hipocrisia? Seria melhor ter fingido que tudo está bem em nome de uma aparente unidade?

E se eu fosse da extrema direita? Acho que muitos iriam gostar se eu me posicionasse a favor da pena de morte, da redução da maioridade penal.

Mas acho que a galera iria ao delírio mesmo se eu declarasse guerra aos homossexuais. Eu seria contra qualquer tipo de direito civil aos gays, pois não bastaria o preconceito já sofrido. Eles deveriam sofrer mais pra saber que seu pecado é ruim.

Sim, seria mais fácil se eu jogasse o jogo religioso. Eu tinha quase todas as virtudes necessárias para me dar bem. Eu sou comunicativo, em algumas coisas sou determinado e gosto de estudar a Bíblia. Opa! Foi justamente essa última que me fez cair. Na verdade, eu tinha que aparentar estudar a Bíblia, isso seria mais fácil.

Mas ao ler a Bíblia vi que as coisas não eram assim. Vi que se nós nos calarmos diante da hipocrisia não somos bons crentes, mas somos covardes. Vi que a unidade da igreja não é fundamentada na aparência e covardia, mas na pregação da verdade. Cristo é a verdade.

Vi também que devo amar a todos sem distinção nenhuma. Aprendi também que a verdadeira transformação moral é feita pelo Espírito Santo e não por uma legislação moralista.


Aprendi que é melhor “viver em outra frequência”. 

Ouça e seja edificado. 


domingo, 7 de junho de 2015

A parábola do Bom Travesti

Jony Bigu 

Certo homem, pai de uma família tradicional, descia a ponte da Barra do Ceará, entre as cidades de Fortaleza e Caucaia. E vieram três bandidos e roubaram todo o seu dinheiro e bateram muito nele, deixando-o desacordado. E aconteceu que passando um músico de uma igreja, olhou para o homem caído e nada fez, pois precisava chegar à igreja antes do culto para afinar o instrumento. Pouco tempo depois, passou outro homem, pastor de igreja. Este, afirmando estar muito atrasado para sua celebração, não se solidarizou com o ferido, pois, além do atraso, teria que sujar sua roupa. E por fim, passou naquele local um travesti que caminhava em direção ao bar onde costumava se encontrar com outros travestis. E vendo aquele homem ferido, lembrou que por várias vezes foi vítima de violência e que geralmente não era aparada por ninguém. Lembrou também de seu pai, que foi morto num episódio de violência urbana quando ele era ainda criança. Então, compadeceu-se do homem caído e o levou para o bar onde ficava. Lá, junto com outras pessoas, o fizeram acordar e lhe deram água e comida. O homem agradeceu ao travesti pelo que fez e foi para sua casa reconhecendo que aquele fato foi um livramento que Deus deu a sua vida usando quem ele menos imaginaria.


Certamente esse texto me escandalizaria há alguns anos. Certamente eu ficaria com raiva do autor. Certamente essas ideias ficariam no meu juízo me fazendo pensar em algum argumento para refutar. Bem, pelo menos ele me faria pensar. Foi isso que Jesus fez com os judeus ao falar a parábola original (Lucas 10: 30-37). O samaritano era quem menos um judeu imaginaria para fazer tal ato de benevolência. Na cabeça do judeu era praticamente impossível o agir de Deus vir por meio de um samaritano. Não estou afirmando nada sobre a religiosidade dos travestis. A única coisa que pretendo dizer é que todos são “o próximo” que Jesus pediu que amássemos, seja qual for a opção sexual, cor da pele, classe social, gênero e demais diferenças.

ass. Jony Bigu - que aproveitou o tempo livre do domingo pra escrever suas sandices aqui no missoessalem.blogspot.com

sábado, 9 de maio de 2015

O Deus Pai é Deus Mãe

Por Jony Bigu

Chega o dia das mães, é festa em inúmeras residências Brasil a fora. Uma homenagem mais que justa, pois comemorasse a mais celebre forma de amor entre os homens: o amor de materno. É um amor tão grande que o próprio Deus o usa para fazer uma analogia com seu amor.

“Será que uma mãe pode esquecer o seu bebê? Será que pode deixar de amar seu próprio filho? Mesmo que isso acontecesse, eu nunca esqueceria vocês.” Is. 49:15 (NTLH).

Em várias passagens da bíblia, Deus se revela fazendo uso do amor maternal para nos fazer entender seu grandioso amor.

1.       Deus sofre com os pecados dos filhos e faz de tudo para restaura-lo assim como uma mãe.

“Fiquei muito tempo em silêncio, e me contive, calado. Mas agora, como mulher em trabalho de parto, eu grito, gemo e respiro ofegante. [...] Essas são as coisas que farei; não os abandonarei.” Is. 42:14,16b (NVI).

Nesse texto, Deus fala das dores sentidas durante o período do exílio (período que Judá permaneceu sobre domínio babilônico).

2.       Deus consola seu povo assim como uma mãe consola seus filhos.

“Assim como uma mãe que consola seu filho, também eu os consolarei; em Jerusalém vocês serão consolados ” Is. 66:13 (NVI).

Após o doloroso período do exílio Babilônico, Deus promete consolar seu povo na terra deles. Assim como o colo de uma mãe, o colo de Deus também é consolador depois de grande sofrimento.

3.       Deus cuida e ensina seus filhos mesmo não tendo o devido reconhecimento.

“Quando Israel era menino, eu o amei, e do Egito chamei o meu filho. Mas quanto mais eu o chamava, mais ele se afastava de mim. [...] Mas eu fui quem ensinou Efraim a andar, tomando-o nos braços [...] Eu o conduzi com laços de bondade humana e de amor; tirei do seu pescoço o jugo e me inclinei para alimentá-los.” Oseias 11:1-4 (NVI).

Esta linda passagem, mostra o cuidado que Deus teve com o seu povo. Ele o amou desde o tempo que Israel era um menino mal criado. É Ele quem conduz seu povo com bondade humana, sim, a bondade entre os homens é expressão do amor de Deus. Além disso, Ele é quem toma o nosso jugo e se inclina para nos dar de mamar.

O amor materno de Deus também aparece nas palavras de Jesus quando este desejou cuidar de Jerusalém como uma galinha que cuida de seus pintinhos debaixo de suas asas (Lc 13:34). Jesus estava triste, pois Jerusalém não havia entendido o que era o Reino de Deus. O cuidado do Senhor nos liberta e nos ensina a voar. E se algum dia fraquejarmos, Ele estará próximo para nos amparar.
 
“Como a águia ensina os filhotes a voar e com suas asas estendidas os pega quando estão caindo, assim o Senhor Deus cuida do seu povo .” Deuteronômio 32:11 (NTLH).

Deus ama como mãe.

Ass. Jony Bigu – que nunca será mãe, mas foi amado demais pela Rosinha, sua mãe, e por isso entendeu a profundidade do amor materno.

sábado, 2 de maio de 2015

Deus nos chamou para ser Igreja

Por Jony Bigu


Pensar sobre a igreja é algo que me deixa bem entusiasmado. É sempre bom pensar e refletir sobre o corpo de Cristo. Quero falar de igreja no sentido bíblico e não no sentido comum e, até mesmo, equivocado que esse termo tomou.

É bastante comum ouvirmos frases do tipo: “vamos à igreja hoje”. Outra frase que me deixa um tanto contrariado é: “de que igreja você é?”. Geralmente, com um sorriso no rosto e um tom de brincadeira respondo: “eu sou da única igreja que existe, sou da igreja de Jesus Cristo!”. Mas eu entendo o que as pessoas estão perguntando. Elas querem saber que instituição religiosa eu frequento. Essa é a principal confusão em torno do termo igreja.

Igreja é diferente de instituição, organização, entidade ou qualquer corporação de cunho religioso. As instituições, organizações e entidades podem até ser igreja, mas o contrário não é verdadeiro. A igreja está para além do simples ajuntamento de pessoas.  Nas palavras de Wayne Jacobsen e Dave Colemam *:

“Igreja é uma palavra que não identifica um local ou uma instituição. Ela descreve um povo e como os membros desse povo se relacionam uns com os outros. Quando se perde isso de vista, nossa compreensão da igreja fica distorcida e deixamos de usufruir a alegria que ela pode nos dar. Jesus não fala da igreja como um lugar aonde se vai, mas como um modo de viver na relação com Ele e com os que O seguem.”

Essa questão espacial da igreja como um local que contém a presença de Deus é algo que está na mente das pessoas há muito tempo. A construção de um referencial especial é uma forma do homem expressar poder (discussão sobre o espaço geográfico me deixa entusiasmado também, mas pode deixar que este geógrafo aqui não vai além disso neste texto). Na religião, este referencial espacial que contém Deus se materializou socialmente como o templo.

O homem tem um desejo perene de Deus. Tê-lo sempre próximo é sinal de segurança e benção. Construir um lugar próximo que pudesse conter a presença de Deus permanentemente seria ótimo. Eis aí a ideia de templo de muitas pessoas, de fazer de um Deus sempre em movimento, um Deus estático e sempre disponível ao desejo delas. Elas querem prender a Plenitude de tudo dentro de quatro paredes. Trata-se, na verdade, do velho desejo de controlar ou mesmo domesticar Deus. O grande problema é que não há como controlar Deus. Ele não se reduz a um templo.

No Israel antigo, o templo foi usado para controle social de massa. O rei Salomão, sem grande carisma para guerra, foi um construtor por excelência. Ele foi responsável pela construção magnífica do templo. À custa de pesados impostos e até de trabalho forçado, o rei fez com que o esplendor do templo mascarasse a dura cerviz do povo e tudo isso fosse admitido como devoção. Até mesmo a ostentação do rei em seu palácio era considerada como manifestação da glória de Deus diante do povo hebreu e de outras nações. Salomão conseguiu construir o “centro do mundo” tendo domínio do espaço sagrado e do poder político e econômico. Em outro momento poderemos discutir uma teologia do templo mais a fundo, mas esse não é nosso propósito aqui.

O fato é que, ainda hoje, muitos desejam controlar a divindade. Quem domesticar Deus, restringindo-O a uma organização e a uma prática religiosa. Tais indivíduos estabelecem um patrão de relacionamento com o Senhor e se colocam como procuradores dessa divindade. São essas pessoas que reproduzem a ideia do templo como sinônimo de igreja. E muitas vezes até nós mesmos reproduzimos essa ideia sem percebemos. Dizemos que nossa organização é a verdadeira, advogamos em favor de nossas práticas religiosas e, muitas vezes, esquecemos o que é verdadeiramente ser igreja. Isso mesmo: ser e não pertencer ou frequentar. Igreja eu sou onde eu estiver me relacionando com Deus e com o meu próximo. Igreja eu sou em qualquer lugar, porque Deus não está preso numa caixa de concreto.

Para concluir, deixo uma indicação de uma boa música do grupo Palavrantiga, da qual sempre lembro quando estou falando de igreja.

Casa

Deus preferiu essa carne
Não quis os templos que eu posso construir
Com minhas mãos

Me fez casa
Eu sou morada
Lugar de Deus
Que não está lá fora
Mas sim mora dentro de mim

Abri a porta e Ele entrou em casa.
Estou em obras.
Essa morada um dia será perfeição!

Deus preferiu essa carne
Não quis os templos que eu posso construir
Com minhas mãos, não!

Me fez casa
Eu sou morada
Lugar de Deus
Que não está lá fora
Mas sim mora dentro de mim

A minha janela são estes olhos que brilham
Uma coisa ela mostra
Quem a ilumina é o meu Amado
Mudando as coisas de lugar
Dentro de mim, dentro de mim

Eu sou casa
lugar de Deus
Ele habita em mim

Lá fora é frio
Lá fora é medo
É alto de monte
Deserto, vazio

Morando em mim, Tu me aqueces
Me ensina a ser livre
Santo Espírito me enche de alegria

Eu sou casa
lugar de Deus

Ele habita em mim


* Extraído do livro "Porque você não quer mais ir a igreja?"

sábado, 18 de abril de 2015

Não concordo com o meu pastor; o que faço?

Por Jony Bigu

Essa é uma pergunta que costumo receber.  Geralmente é feita por jovens. Antes de responder, é necessário observar uma série de questões. Nossos jovens estão cada vez mais pragmáticos, e a resposta que eles geralmente querem ouvir é “procure outra igreja!” ou “faça isso ou aquilo”. Eles querem uma solução mágica para resolver seus problemas. Refletir e pensar não são tarefas das mais desejáveis. Geralmente, procuro responder pautado nos seguintes argumentos.

1 – Em que você discorda de seu pastor?
Percebo que grande parte das discordâncias é resultado de apenas um conflito de ego. Geralmente, os conflitos não envolvem questões fundamentais da doutrina cristã. São questões periféricas ou questões que envolvem a administração da instituição. Grande parte dos testemunhos de racha em igrejas é resultado disso. Parece-me que questões políticas e administrativas ganham mais peso que a comunhão, que deveria ser uma das principais marcas da igreja. Indico o bom livro É proibido do pr. Ricardo Gondim. Para questões doutrinárias fundamentais, indico o livro Cristianismo puro e simples de C. S. Lewis, texto de ideal conservador, mas que serve de parâmetro para discutirmos inúmeras questões.
2 – Sua igreja não é apenas seu pastor.
Sei que a figura pastoral é fundamental na igreja, mas ela não é tudo. Existe uma série de outras coisas que merecem ser observadas como: seu ministério pessoal (falo ministério como pratica de serviço e não cargos ou coisa do tipo), seu testemunho ao mundo e entre os irmãos da igreja.

O diálogo continua sendo o principal elemento de conciliação. É necessário que ambas as partes saibam dialogar. Se a mudança de instituição for realmente a única saída, pois isso está causando um prejuízo espiritual irreparável, tenha certeza que Deus agirá em favor disso. E quando esse momento chegar será inevitável a sua saída. O ideal é você estar atento para a voz de Deus pois, se for necessário, de alguma forma Ele claramente falará: “sai dela povo meu!”. Enquanto isso continue lutando em favor do bem de sua comunidade. Fomos chamados para isso: lutar pela igreja.


quarta-feira, 8 de abril de 2015

Não! Nós não somos igreja!

Por Jony Bigu

Desde pequeno, minha mãe sempre se preocupou em me levar para a igreja. Com o passar do tempo e com a leitura da bíblia, comecei a compreender que a verdadeira igreja é constituída de pessoas e não de paredes. Aprendi que a humanidade é o elemento mais importante que um CNPJ. Dizer que somos igreja é uma verdade. Uma verdade que se aprende na prática e não na pregação de muitos templos.
Dizemos que somos igreja, mas fazemos questão de anunciar o nome de nossas instituições religiosas.
Dizemos que as pessoas são o que temos de mais importante, mas não paramos de nos preocupar com as questões administrativas do patrimônio material da instituição.
Dizemos que a verdadeira igreja é invisível e espalhada por todos os cantos da Terra, mas fazemos questão em dizer que nossa denominação é melhor que as outras.
Dizemos que a igreja deve ajudar a sustentar os mais necessitados, mas na prática fazemos justamente o contrário, pois são os pobres que sustentam as organizações religiosas.
Dizemos que cremos no sacerdócio universal, mas fazemos questão de venerar pessoas iguais a nós e damos a eles glória que não lhes pertence.
Cristo falou que nós somos igreja, mas fazemos questão em negá-lo com nossas práticas. Para nós, o templo é igreja. Ou entendemos errado, ou eu não sei o que somos. Somos qualquer coisa, menos igreja.

sábado, 28 de fevereiro de 2015

Roupas velhas

Por Jony Bigu

Arrumar as roupas é uma das tarefas que mais odeio fazer em casa. Para mim, é um trabalho que não vale muito a pena, pois em alguns dias tudo estará desarrumado novamente, todavia, é um trabalho necessário. Vejo velhas roupas. Roupas que geralmente me lembram de alguns momentos: uma entrevista, um aniversário, uma festa na casa dos amigos, ou coisa do tipo.

Experimenta a roupa e se olha no espelho a fim de ver como fica. Em alguns casos, você vai perceber que alguma coisa mudou e que algumas roupas já não serão usadas por você, seja por uma variação no peso ou por ter mudado alguns gostos.

Daí, fiquei pensando o quanto sofremos quando tentamos continuar usando algumas roupas que já não cabem mais nós. Ficamos sufocados, desajeitados e sem graça. É assim quando insistimos em ser o que não somos mais. E o problema não está na roupa; está em nós. Fomos nós que mudamos.

Ainda que queiramos, algumas roupas já não combinam com a gente e é preciso reconhecer isso. Nós mudamos assim como quase tudo nessa vida. Reconhecer que você não é mais o mesmo e avaliar se a mudança é positiva ou negativa é um exercício que devemos fazer sempre.

Depois de dobrar várias roupas, percebi que algumas delas precisam ser doadas e outras jogadas fora, pois já não cabem em mim. Graças a Deus, estou muito feliz com minha nova maneira de me vestir. Aqueles que gostam de mim não se importam com as roupas que uso, pois eles conhecem quem está dentro da roupa. Porém, os que não me conhecem continuarão me julgando com base na aparência. É difícil, mas decidi vestir-me para mim mesmo e não para agradar quem não gosta de mim. Faça você o mesmo.

Ass. Jony Bigu - que não tem roupas caras, mas anda no estilo.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

Carnaval, cinzas e um baile sem máscaras.


Por Jony Bigu

Você pulou, bebeu, beijou, dançou, cantou e agora é só saudades. Saudades porque acabou a festa.  Saudade da máscara que você usou para poder participar da brincadeira. Essa máscara fez milagres. Fez você esquecer a realidade por um momento e deixar fluir toda sua sede de alegria. Com essa máscara, você fez coisa que jamais faria em seu cotidiano.

Agora acabou. Você coloca sua máscara na caixa esperando o outro carnaval e volta para o mundo sem máscara. Não poderia ter nome melhor para essa quarta-feira. Quarta-feira das cinzas de uma alegria efêmera que já passou. As palavras do poeta que dizia não haver felicidade, mas momentos felizes, começam a fazer sentido para você.

Mas será que realmente não há felicidade? Será que você realmente tem que passar o ano inteiro esperando apenas alguns momentos ocorrerem? E será assim por toda sua vida? Jesus disse certa vez: eu sou o bom pastor e dou vida em abundância. Vida em abundância é fazer valer a pena todos os instantes que se vive. Jesus disse que isso era possível. Eu experimentei e você também é convidado a experimentar. Mas se for fazer isso, procure por Ele (Jesus e não por religião). Foi isso que fiz. Acredite, é possível ser feliz sem máscaras.

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

Os cristãos, o “bolsa travesti” e o PT.

Por Jony Bigu

Nos últimos dias, vi muitos crentes criticando uma ação da prefeitura de São Paulo que oferece um benefício social no valor de um salário mínimo a travestis para que estes possam concluir o ensino básico e fazer um curso técnico. Eu até entrei no debate algumas vez e, como geralmente acontece, fui rechaçado mais uma vez.

Para explicar o meu ponto de vista, vamos imaginar a seguinte situação. Imagine que você resolve fazer um trabalho social em prol de um grupo de pessoas você conhece, na sua igreja. Você sabe que esse grupo é o que mais sofre com a violência. Além disso, você conhece que grande parte dessas pessoas sofre com a rejeição de seus familiares. Muitas até foram expulsas de casa quando ainda eram crianças. A situação dessas pessoas é realmente é triste.

Então, vocês resolvem dar uma ajuda financeira para essas pessoas para que elas tenham oportunidade de estudar e possam fazer um curso técnico para se capacitar e ter outras oportunidades. Você sabe que essa ajuda financeira será importante, pois caso eles não tenham, terão que se expor ao perigo da violência.

Você acha que essa atitude é má a sociedade? A situação que falei acima não é hipotética. Ela existe. A única diferença é que ao invés desse projeto ser uma ação da igreja é uma ação da prefeitura do PT. Outro detalhe importante é que o grupo excluído é um grupo de travestis. Para muitos “irmãos”, isso faz toda a diferença.

Talvez eu esteja errado, mas para mim é difícil achar que um grupo que mais sofre no Brasil com a exploração sexual, é vítima de preconceito diariamente, tem dificuldade em conseguir um emprego por conta de sua aparência, seja um grupo privilegiado só por conta de uma ajuda financeira para que possa estudar. Sinceramente, eu não consigo entender. Para mim, é triste ver os cristãos colocarem suas convicções políticas e um juízo de valor pela aparência acima da dignidade humana.


Deus tenha misericórdia de nós.