sábado, 26 de dezembro de 2015

O primeiro natal que não deu certo: uma reflexão para o outro natal.

Por Jony Bigu

Esse post está atrasado. Deveria ter sido feito semana passada. Mas lido agora, você poderá aproveitar seu próximo natal. Ontem à tardinha uma criança na rua me desejou feliz natal depois de receber uma moeda. Por um instante pensei em como seria o natal daquela criança. Mas o sinal abriu e o mundo insensível me furtou daquela reflexão. Depois de comer bastante e ficar empanturrado me lembrei daquela criança. Será que o natal dela deu certo como o meu? Ou deu errado? E existe natal que dá errado? Depois de pensar um pouco, vi que nem sempre algumas celebrações saem como o planejado.
Lembro de certo casal que viajava pelo território palestino. O nome deles era José e Maria. Maria estava grávida. Desde o início de sua gestação, José se mostrou muito responsável, pois recebera uma revelação de Deus falando que a vida no ventre de Maria era obra do Espírito Santo.
Não sei quais eram os planos de José. Eles precisavam fazer essa viajem para responder um censo pedido pelo imperador romano. Mas será que daria tempo? Não sei, mas acho que José não planejou o nascimento de seu filho da forma que foi. Que pessoa responsável em sã consciência planejaria ter um filho numa cidade estranha, pequena e sem ter nenhum parente ou conhecido? Quem planejaria ter um filho num estábulo junto com vacas e ovelhas? Por que não esperar mais um pouco para dar tempo voltar para casa? Ou mesmo para chegar em Jerusalém, cidade com maior estrutura para receber visitantes?
Não! Não deu certo! O menino inventou de nascer num momento inoportuno. O casal não encontrou hospedaria em Belém. Não houve quem oferecesse um compartimento de sua casa, ou mesmo um quartinho nos fundos. O casal teve que se virar. Nascer numa manjedoura não foi um detalhe para que a história ficasse mais emotiva. Como falamos aqui no Ceará, nascer ali foi o jeito mesmo. Jesus não seria menos Deus se nascesse com todos os cuidados possíveis para aquela época. Se tivesse melhores condições para o nascimento do menino, certamente José teria escolhido. Mesmo naquele local inadequado, a alegria estava estampada no rosto do casal. Sorriso que está eternizado nos inúmeros presépios mundo a fora. Outros convidados apareceram. Pastores e até reis foram visitar o menino pobre que nasceu em Belém. Se a festa precisava de convidados agora não faltava mais. Além de Deus providenciar um coral de anjos para jubilar o nascimento do menino.
Voltando à história do menino no sinal, acho que o natal dele não deu muito certo, como o do menino que nasceu em Belém. Oro para meu Deus, para que no próximo natal eu não seja como as famílias de Belém, que não se importaram com a aflição daquele pobre casal, mas que eu seja como os pastores, os anjos ou os reis do oriente para participar e estar junto daqueles cujo natal deu errado.

sexta-feira, 6 de novembro de 2015

O EVANGELHO PARA UMA CIDADE DESIGUAL: os desafios socioambientais


“Cuidar do meio ambiente é, para mim, um compromisso de vida, um ministério. Não um ministério no sentido eclesiástico ou teológico, mas um ministério que tem suas raízes no cristianismo.” Mariana Silva
“No princípio criou Deus os Céus e a Terra” Gn 1:1.
Introdução
O relato da criação descrito no primeiro capítulo de Gênesis mostra-nos um detalhe importante. Deus cria um mundo harmonioso a partir de uma realidade caótica. A terra “sem forma e vazia” vai ganhando condições de habitabilidade. Flora e fauna são criadas e colocadas à disposição do homem. A história é testemunha de que temos sido negligentes com o meio ambiente. Flora e fauna têm sofrido prejuízos irreparáveis, e nós estamos sentindo na pele os impactos do desequilíbrio ambiental.
O processo de destruição do meio ambiente se acelerou desde a Revolução Industrial no século XVIII. Além do uso mais intenso dos recursos naturais, o grande crescimento das cidades sem o aumento das infraestruturas urbanas colocou a população em condições sanitárias bastante precárias. Rios e riachos que ocupavam o sítio urbano foram poluídos, tornando-se esgotos a céu aberto, ou foram desviados, canalizados, assoreados, ou simplesmente desapareceram por serem aterrados. Houve também um aumento significativo de lixo. O resultado desse aumento foi o acúmulo desses resíduos em lixões, sem o tratamento adequado. Séculos já passaram e ainda hoje a cidade sofre com esses problemas.
Os problemas ambientais são problemas sociais.
A afirmativa acima é um elemento importante. Somos parte da criação como um todo e devemos compreender que os problemas ambientais significam muito mais que um desequilíbrio ecológico; ele é, antes de tudo, um problema social nas cidades. Serão as pessoas mais pobres que sofrerão de forma mais árdua os problemas ambientais urbanos. Basta fazermos algumas perguntas: que classe social mora próxima a leitos dos rios em seus trechos mais degradados e poluídos? Quem mora vizinho a lixões? Que população habita próxima às áreas industriais e sofrem diariamente com a poluição? O sistema de saneamento ambiental (água, esgoto, resíduos sólidos e drenagem urbana) nas cidades é distribuído com equidade? Não precisa nem responder. Nós já sabemos a resposta.
O fato é que estamos reproduzindo uma cidade em que algumas pessoas pagam mais caro por um erro de todos. Isso configura uma desigualdade e uma injustiça. E o pior: quem paga mais caro é a parcela da população que mais necessita de ajuda. Somos, enquanto sociedade, culpados por essa desigualdade. De alguma forma, nós corroboramos com esse sofrimento dos mais pobres.
Mas por que não percebemos isso?
Historicamente, negligenciamos muito as questões ambientais. Aliás, vários críticos apontam o cristianismo como um sistema que não dá importância às questões ambientais. Para eles, os cristãos não se importam com os elementos da natureza, assim como fazem as religiões de matriz africana. Os sistemas religiosos de matriz africana apresentam grande devoção aos fenômenos naturais. Eles mostram reverência e devoção aos elementos naturais. Eles os respeitam e os temem.
O monoteísmo judaico-cristão adora a um Deus pessoal que é totalmente diferente e independente das coisas criadas. Ele não se confunde com suas criaturas. Além disso, preterimos a ideia de dar grande importância às criaturas. É claro que Deus não está consubstanciado na natureza, como prega o panteísmo, todavia, as criaturas de Deus proclamam sua glória. Como propôs o salmista: "Os céus declaram a glória de Deus; o firmamento proclama a obra das suas mãos" (Salmo 19.1). Se os céus declaram a glória do pai, a negligência de nossa sociedade a deturpa com uma grande quantidade de poluição jogada na atmosfera e no aumento do buraco na camada de ozônio. O pecado de nossa sociedade a impede de ver com clareza a glória de Deus na criação. Todavia, devemos acreditar que a glória do Senhor encherá toda a terra (Nm 14:21).
Assim na terra como no céu.
Outro fator que nos fez negligenciar nossas responsabilidades terrenas foi nossa busca desenfreada pelo céu. Quando pensamos em aquecimento global, enchentes nas cidades, surto de doenças em comunidades pobres que moram próximas a rios, ou deslizamento de terra que acabou com dezenas de casas construídas sobre um antigo lixão, pensamos no Reino do porvir. Nossa presunção e egoísmo não nos deixa enxergar que também temos nossa parcela de culpa. E ao invés de repensar sobre nosso papel na construção da sociedade, alguns usam essas catástrofes para pregarem um “evangelho” do medo a fim de “converter” as pessoas.
O Reino de Deus se realiza tanto nessa terra como no porvir. A vontade de Deus deve se manifestar tanto aqui como céu. O equilíbrio e a harmonia que ansiamos no céu, devemos ansiar para a terra também.
A nossa cidade
Assim como nas outras capitais do país, a cidade de Fortaleza apresenta um cenário de vulnerabilidade para um significativo número de seus habitantes. Os casos mais emblemáticos são das comunidades que vivem próximo aos leitos dos rios. A maior parte dessas comunidades está nas margens do rio Maranguapinho, que corta um trecho significativo da periferia sudoeste de Fortaleza. Aliada à precariedade social (é nessa área em que se encontram os bairros mais pobres da cidade), a vulnerabilidade ambiental intensifica o processo de exclusão das pessoas mais pobres que moram nessas comunidades. Além das comunidades do Maranguapinho, alguns casos próximos ao rio Cocó e ao litoral (principalmente o oeste) da cidade também apresentam sérios problemas socioambientais.
Em suma
O entendimento de nossa cidade é o primeiro passo para refletirmos sobre nossa fé e nossa relevância social considerando toda criação de Deus. Algumas pessoas estão sofrendo mais por conta do desequilíbrio causado por todos nós enquanto sociedade. Além de estender a mão a estes desditosos, é necessário lutarmos contra toda essa produção desigual do espaço em nossa cidade. Deus nos abençoe. 

sábado, 26 de setembro de 2015

O Evangelho para uma cidade desigual: o caso de Babel.


Depois disseram: "Vamos construir uma cidade, com uma torre que alcance os céus. Assim nosso nome será famoso e não seremos espalhados pela face da terra". Gn 11:4
“Os sentimentos mais genuinamente humanos logo se desumanizam na cidade.” Eça de Queirós
INTRODUÇÃO
Diversas críticas já foram feitas aos sistemas religiosos por estes insistirem na separação entre sagrado e profano. Essa separação é vantajosa aos líderes desse sistema, pois, ao desvincular a prática cotidiana da prática espiritual, permite que grande número de fiéis se transforme em pessoas comuns, ao passo que os líderes se “especializam” em práticas espirituais e se tornam indivíduos diferenciados das pessoas comuns.
Outro fato que é resultado dessa separação é quanto à relevância dos templos. A prática religiosa tornou-se essencialmente uma prática entreparedes. O templo passou a ser o lócus da prática religiosa. É claro que várias organizações religiosas estabelecem programas fora do templo. Programas geralmente voltados para um público de pessoas que não faz parte de seu ciclo religioso. São programas proselitistas. Quando estes programas extra templo não conseguem direcionar as pessoas ao templo são tratados como fracasso.
Desse modo, pensar a prática religiosa na rua é algo bastante complicado no atual contexto religioso. Para muitos a rua é local da vadiagem, as esquinas são locais perigosos, ocupadas por pessoas violentas, mas não local de adoração e louvor a Deus. A cidade é totalmente negligenciada e esquecida.
Esquecemos que a cidade é construída socialmente por todos nós. E ela é apenas a materialização de nossas práticas sociais. A cidade é violenta porque pessoas são violentas. A rua é deserta porque pessoas não a ocupam. A cidade é desigual socialmente porque nós reproduzimos essa desigualdade. Quando tememos a cidade, tememos nossa própria condição de homens.
Se levarmos nossa prática religiosa para rua, ao invés de a restringirmos ao templo e aos nossos encontros, poderemos transformar o estado de vulnerabilidade social e ambiental de nossa cidade. Isso só acontecerá quando admitirmos que o Reino de Deus é maior que nosso ciclo religioso. Admitirmos que Deus é o Senhor de tudo e de todos. Admitirmos que todos podem ser “cidadãos” do Reino do Pai. Se nossa relação com Deus pode nos transformar, então também podemos transformar a cidade!

Uma cidade desigual: o retrato da negligência com o meio ambiente e com o próximo.
O relato de Genesis 1 e 2 mostra um Deus criador prezando e responsabilizando o homem pela sua criação. De uma terra caótica, “sem forma de vazia”, Ele estabelece um equilíbrio entre os seres vivos. O pecado é quem desfaz o equilíbrio pensado por Deus. Uma sociedade desiquilibrada é resultado do pecado.
Os problemas sociais de nossa cidade só mostram nossa negligência em não observar os princípios da criação e o amor ao próximo. Falamos de “próximo” aqui considerando toda humanidade.
A cidade de hoje é bem diferente da que imaginávamos há algumas décadas. Com os avanços na tecnologia, na política e nos direitos individuais, poderíamos ter construído a cidade marcada pela liberdade, igualdade e fraternidade. Cidade onde todos tivessem oportunidades de emprego e acesso à cultura e ao lazer. Mas fizemos justamente o contrário. Construímos a cidade da competição. Na cidade não há espaço para todos. Uns devem morar bem, outros devem se sujeitar à precariedade e sobreviver em condições muito ruins.
A competição gera solidão. Não é difícil encontrar pessoas que não se relacionam com seus vizinhos ou até nem sabe seus nomes. Não há comunicação. Poderíamos até dizer que a cidade de hoje é uma grande Babel. Aquela velha história do povo que se reuniu numa planície nas terras da antiga Mesopotâmia para construir uma torre, como relata a Bíblia. Eis aqui algumas semelhanças.
Babel era um grande ajuntamento humano, todavia, não havia comunhão nenhuma entre seus habitantes. Não são raros os casos de pessoas que moram em certo local e não conhecem seus vizinhos. Os ônibus circulam lotados de pessoas que parecem viver sozinhas com seus mundos criados a partir de seus fones de ouvidos. Os smartphones parecem também criar vários universos paralelos. Nossa cidade é uma das mais populosas do Brasil, mas conseguimos em poucos minutos falar o nome de todas as pessoas com as quais nos relacionamos cotidianamente.
Babel era a clara expressão do orgulho humano e da autoproteção. Os habitantes de Babel sonhavam em construir uma torre que chegasse aos céus. Queriam ser grandes, únicos e poderosos. O testemunho da história nos fez saber que seu tempo passou. Outros povos poderosos surgiram e deixaram de existir como Babel. Nosso orgulho e egoísmo podem fazer sucumbir nossa sociedade. E nem adiantou queimar bem os tijolos e colocar betume. Nossa autoproteção nos faz evitar contatos. Faz-nos desconfiar de tudo. No final, ficaremos apenas nós e nossa autoproteção.

E agindo dessa forma, estamos construindo uma cidade desigual. Uma expressão clara de nosso pecado. A desigualdade de social em nossas cidades, assim como em outras cidades, é resultado de inúmeras relações sociais como as citadas em Babel. Fomos nós que reproduzimos isso. Pensar nossa cidade de outra maneira pode ser uma alternativa para juntos construirmos um modelo de cidade não semelhante à Babel. Deus nos abençoe.

sexta-feira, 17 de julho de 2015

O dia que Deus usou a banda Engenheiros do Hawaii para despertar meu coração.

“Seria mais fácil fazer como todo mundo faz!” Foram essas as palavras que mexeram comigo. Ela é parte de uma música da banda Engenheiros do Hawaii. Ao ouvir, fiquei pensando como minha vida poderia ser diferente na minha antiga igreja se eu tivesse feito diferente. Na verdade, feito igual à maioria. Feito o que todo mundo faz.

E se eu tivesse ficasse calado diante da hipocrisia? Seria melhor ter fingido que tudo está bem em nome de uma aparente unidade?

E se eu fosse da extrema direita? Acho que muitos iriam gostar se eu me posicionasse a favor da pena de morte, da redução da maioridade penal.

Mas acho que a galera iria ao delírio mesmo se eu declarasse guerra aos homossexuais. Eu seria contra qualquer tipo de direito civil aos gays, pois não bastaria o preconceito já sofrido. Eles deveriam sofrer mais pra saber que seu pecado é ruim.

Sim, seria mais fácil se eu jogasse o jogo religioso. Eu tinha quase todas as virtudes necessárias para me dar bem. Eu sou comunicativo, em algumas coisas sou determinado e gosto de estudar a Bíblia. Opa! Foi justamente essa última que me fez cair. Na verdade, eu tinha que aparentar estudar a Bíblia, isso seria mais fácil.

Mas ao ler a Bíblia vi que as coisas não eram assim. Vi que se nós nos calarmos diante da hipocrisia não somos bons crentes, mas somos covardes. Vi que a unidade da igreja não é fundamentada na aparência e covardia, mas na pregação da verdade. Cristo é a verdade.

Vi também que devo amar a todos sem distinção nenhuma. Aprendi também que a verdadeira transformação moral é feita pelo Espírito Santo e não por uma legislação moralista.


Aprendi que é melhor “viver em outra frequência”. 

Ouça e seja edificado. 


domingo, 7 de junho de 2015

A parábola do Bom Travesti

Jony Bigu 

Certo homem, pai de uma família tradicional, descia a ponte da Barra do Ceará, entre as cidades de Fortaleza e Caucaia. E vieram três bandidos e roubaram todo o seu dinheiro e bateram muito nele, deixando-o desacordado. E aconteceu que passando um músico de uma igreja, olhou para o homem caído e nada fez, pois precisava chegar à igreja antes do culto para afinar o instrumento. Pouco tempo depois, passou outro homem, pastor de igreja. Este, afirmando estar muito atrasado para sua celebração, não se solidarizou com o ferido, pois, além do atraso, teria que sujar sua roupa. E por fim, passou naquele local um travesti que caminhava em direção ao bar onde costumava se encontrar com outros travestis. E vendo aquele homem ferido, lembrou que por várias vezes foi vítima de violência e que geralmente não era aparada por ninguém. Lembrou também de seu pai, que foi morto num episódio de violência urbana quando ele era ainda criança. Então, compadeceu-se do homem caído e o levou para o bar onde ficava. Lá, junto com outras pessoas, o fizeram acordar e lhe deram água e comida. O homem agradeceu ao travesti pelo que fez e foi para sua casa reconhecendo que aquele fato foi um livramento que Deus deu a sua vida usando quem ele menos imaginaria.


Certamente esse texto me escandalizaria há alguns anos. Certamente eu ficaria com raiva do autor. Certamente essas ideias ficariam no meu juízo me fazendo pensar em algum argumento para refutar. Bem, pelo menos ele me faria pensar. Foi isso que Jesus fez com os judeus ao falar a parábola original (Lucas 10: 30-37). O samaritano era quem menos um judeu imaginaria para fazer tal ato de benevolência. Na cabeça do judeu era praticamente impossível o agir de Deus vir por meio de um samaritano. Não estou afirmando nada sobre a religiosidade dos travestis. A única coisa que pretendo dizer é que todos são “o próximo” que Jesus pediu que amássemos, seja qual for a opção sexual, cor da pele, classe social, gênero e demais diferenças.

ass. Jony Bigu - que aproveitou o tempo livre do domingo pra escrever suas sandices aqui no missoessalem.blogspot.com