segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

ROLEZINHO É POUCO


Por Ed René Kivitz 


Estou absolutamente consciente da absurda e vergonhosa desigualdade social e da camuflada atitude racista presente no tecido cultural brasileiro. Acredito na necessidade do engajamento militante por transformações das estruturas econômicas e de poder político. Propago a atitude crítica em relação à superficialidade da democracia, quando existem milhões de cidadãos em situação de abandono, vitimados por um Estado envolvido em corrupção sistêmica e com sua máquina pública loteada à mercê de interesses particulares de setores ocupados apenas com a perpetuação de seus privilégios. Sou favor de toda e qualquer manifestação pacífica em termos de protestos e reivindicações justas para o bem comum. 

Caso você acredite que todo posicionamento com implicações sociais e políticas pode ser enquadrado em uma das duas categorias, direita e esquerda, considero seu ponto de vista reducionista e ultrapassado. A sugestão de que quem apoia rolezinho é de esquerda, e portanto progressista, e quem não apoia é de direita, e portanto reacionário, é um anacronismo que polariza a discussão, impede a melhor compreensão dos fatos, atrapalha a necessária identificação do conflito subjacente ao fenômeno social, e atrasa a urgente construção coletiva de alternativas de caminhos de justiça e paz. 

Uma coisa é o rolezinho da galera da periferia, que ocupou os shoppings centers em busca de um espaço de lazer, azaração e desejo de consumo, em que a atitude transgressiva é inerente aos atos da adolescência e da juventude e a crítica à estrutura social é uma dimensão indireta. Outra coisa é a instrumentalização feita pelos militantes profissionais e grupos sociais organizados, que se apressaram em ideologizar / antropologizar / sociologizar / academicizar o movimento. Digo logo, eu acredito é na rapaziada. 

Acho chata essa mania de categorizar ideologicamente todo fenômeno ou comportamento social e explicar de maneira inteligente tudo o que acontece. Acho ridículo esse pessoal que considera o Big Brother um case de psicologia comportamental e um retrato sociológico e antropológico do Brasil. Da mesma maneira, não curto o pessoal que se apropria do rolezinho da molecada e se intromete de maneira oportunista para enfiar no meio da multidão suas bandeiras e gritos de guerra. Rolezinho com caráter político não é mais rolezinho, é protesto, passeata, movimento. A molecada quer pegar umas mina, tirar umas fotos bacanas para postar no face e, se der pra comprar um tênis mizuno, tá bom demais. Rolezinho não é militância. O que sugere, ainda outra coisa, a saber, a relevância das militâncias: a necessária mobilização popular a partir da reflexão crítica dos fatos socias. Mas uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa.

Essa discussão sobre rolezinho me fez lembrar a diferença entre emancipação e libertação, especialmente a partir do pensamento do semiótico Walter Mignolo e do filósofo Enrique Dussel, ambos argentinos. Emancipação é originalmente a busca da liberdade. Implica o rompimento dos vínculos que impedem a autodeterminação. Exige a rebelião do indivíduo (ou grupo social) contra o que o limita e aprisiona a toda e qualquer condição de existência adversa independentemente de sua vontade própria.

Mignolo critica o conceito de emancipação, afirmando que se enquadra no universo discursivo do iluminismo, e, portanto, do que chamamos modernidade, que pretendia universalizar o modelo da classe social emancipada das monarquias, baseado na liberdade individual, fundamento da expansão colonial da Europa. Dussel sugere o termo libertação como mais adequado, pois implica o rompimento com as categorias do iluminismo europeu e do pensamento colonial moderno. A emancipação sugere a ascensão na estrutura social estabelecida pela burguesia europeia, enquanto a libertação implica o questionamento e a transformação dessa estrutura. Em termos simples, emancipado é quem sobe a escada social, libertário é quem questiona a existência da escada e acredita inaceitável que se considere justa e definitiva uma sociedade estratificada. 

A garotada que ocupa os shoppings centers não está fazendo crítica ao capitalismo neoliberal, e se calhar tá mais a fim de um boné john john e um smartphone com câmera fotográfica turbinada do que interessada em grandes debates e reivindicações de classe. Tudo indica que está mais comprometida com a emancipação. Apenas indiretamente está dizendo que não aceita como natural seu lugar na base da pirâmide e não vai mais permanecer nos perímetros geo-sociais delimitados pela burguesia. E todos têm sua razão. Quem vive longe da justiça não deve ser criticado por aspirar ao conforto. 

Também é verdadeiro que, além da emancipação, precisamos caminhar a passos mais largos na direção da libertação. Não basta distribuir ou dar acesso aos bens de consumo. É imperativo acelerar os processos de transformação das estruturas que promovem a perpetuação dos abismos sociais. 

Mais do que prática repetitiva, mantenedora do status quo, que tolera a inconformidade desde que submetida ao controle, carecemos de uma práxis libertadora, nos termos do teólogo espanhol Casiano Floristan. Práxis é ação reflexiva, com a coragem de perguntar por que as coisas são como são, questionar se precisam continuar assim, e criativa o suficiente para propor outro jeito de ser gente e ser sociedade, e lançar as sementes que fazem surgir um outro mundo possível.

Os fatos ocorridos no JK Iguatemi, em São Paulo, no sábado 18 de janeiro último, ilustram os conceitos de emancipação e libertação. Os rolezinhos geraram um constrangimento que levou o shopping a fechar as suas portas. Na calçada, ficaram tanto a molecada que em sua maioria queria apenas emancipação, quanto os grupos sociais organizados, que militam por libertação. Tomara a molecada aprenda que rolezinho se faz na praça de alimentação, mas militância se faz na calçada. Tomara as duas multidões se encontrem além da busca de emancipação, e marchem juntas a passos largos, rua afora pelo nosso Brasil, clamando e se mobilizando por libertação.

sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

Como reconhecer uma seita?

Por Rev. Augustus Nicodemus Lopes 

Existem milhares de religiões neste mundo, e obvia­mente nem todas são certas. O próprio Jesus advertiu seus discípulos de que viriam falsos profetas usando Seu nome, e ensinando mentiras, para desviar as pessoas da verdade (Mateus 24.24). O apóstolo Paulo também falou que existem pessoas de consciência cauterizada, que falam mentiras, e que são inspirados por espíritos enganadores (1 Timóteo 4.1-2).

Nós chamamos de seitas a essas religiões. Não estamos dizendo que to­dos os que pertencem a uma seita são deson­estos ou mal intencionados. Existem muitas pessoas sinceras que caíram vítimas de falsos profetas. Para evitar que isto ocorra conosco, devemos ser capazes de distinguir os sinais característicos das seitas. Embora elas sejam muitas, possuem pelo menos cinco marcas em comum:

(1) Elas têm outra fonte de autori­dade além da Bíblia. Enquanto que os cristãos admitem apenas a Bíblia como fonte de conhecimento verdadeiro de Deus, as seitas adotam outras fontes. Algumas forjaram seus próprios livros; outras aceitam revelações diretas da parte de Deus; outras aceitam a palavra de seus líderes como tendo autoridade divina. Outras falam ainda de novas revelações dadas por anjos, ou pelo próprio Jesus. E mesmo que ainda citem a Bíblia, ela tem autoridade inferior a estas revelações.

(2) Elas acabam por diminuir a pessoa de Cristo. Embora muitas seitas falem bem de Jesus Cristo, não o consideram como sendo ver­dadeiro Deus e verdadeiro homem, nem como sendo o único Salvador da humanidade. Reduzem-no a um homem bom, a um homem di­vinizado, a um espírito aperfeiçoa­do através de muitas encarnações, ou à mais uma manifestação diferente de Deus, igual a outros líderes religiosos como Buda ou Maomé. Freqüentemente, as seitas colocam outras pessoas no lugar de Cristo, a quem adoram e em quem confiam.

(3) As seitas ensinam a salvação pelas obras. Essa é uma característica universal de todas as seitas. Por acreditarem que o homem é intrinsecamente bom e capaz de por si mesmo fazer o que é preciso para salvar a sua alma, pregam que ele pode acumular méritos e vir a merecer o perdão de Deus, através de suas boas obras praticadas neste mundo. Embora as seitas sejam muito diferentes em sua aparência externa, são iguais neste ponto. Algumas falam em fé, mas sempre entendem a fé como sendo um ato humano meritório. E nisto diferem radicalmente do ensi­no bíblico da salvação pela graça mediante a fé.

(4) As seitas são exclusivistas quanto à salvação. Pregam que somente os membros do seu grupo religioso poderão se salvar. Enquanto que os cristãos reconhecem que a salvação é dada a qualquer um que arrependa-se dos seus pecados e creia em Jesus Cristo como único Senhor e Salvador (não importa a denominação religiosa), as seitas ensinam que não há salvação fora de sua comunidade.

(5) As seitas se consideram o grupo fiel dos últi­mos tempos. Elas ensinam que re­ceberam algum tipo de ensino se­creto que Deus havia guardado para os seus fiéis, perto do fim do mundo. É interessante que toda vez que nos aproximamos do fim de um milênio, cresce o número de seitas afirman­do que são o grupo fiel que Deus reservou para os últimos dias da humanidade.

Podemos e devemos ajudar as pes­soas que caíram vítimas de alguma seita. Na carta de Tiago está es­crito que devemos procurar ganhar aqueles que se desviaram da ver­dade (Tiago 5.19-20). Para isto, entretanto, é preciso que nós mes­mos conheçamos profundamente nossa Bíblia bem como as doutri­nas centrais do Cristianismo. Mais que isto, devemos ter uma vida de oração, em comunhão com Cristo, para recebermos dele poder e amor e moderação.

segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

“O dedo tecla aquilo que o coração está cheio”

Por Jony Bigu 


Ouvi há pouco a frase acima. Ela é uma adaptação do verso em Mateus 12:34 (a boca fala daquilo que o coração está cheio). Nossa boca é quem mais denuncia quem somos. Abraham Lincoln chegou a essa mesma conclusão ao afirmar que “é melhor calar-se e deixar que as pessoas pensem que você é um idiota do quer falar e acabar com a dúvida”.

Hoje, o modo de se comunicar mudou. As relações virtuais tem ganhado destaque e, muitas vezes, até substituído as relações pessoais, o famoso “olho no olho”. Não podemos negar que a internet tem ajudado, democratizando mais a informação, todavia, o mau uso desse instrumento tem resultado em grandes problemas. A superficialidade na comunicação é um deles.

A não presença física parece não gerar um comprometimento. É bastante comum vermos pessoas darem boa tarde para todos e ao mesmo tempo não dar para ninguém. É tudo muito raso e muitas vezes soam com um ar de hipocrisia. Recentemente, a brincadeira é mudar de status para “relacionamento sério” com alguém que é só amigo. As experiências anteriores de brincar com coisas sérias não foi muito legal. Mas é dessa forma que nossa sociedade vai relativizando o sentido das coisas, tirando-lhe a profundidade.

É por isso que muitos não gostam da contradição. Algumas vezes eu comento algumas coisas e geralmente eu lanço a contradição, principalmente se for algo relacionado ao “mundo gospel”. As experiências são diversas. Uns recebem minha contradição, e a partir daí trocamos ideias. Mas para a grande maioria, eu não passo de um chato e não há diálogo nem troca de aprendizado.


Ass. Jony Bigu – que é chato mesmo de verdade e vem escrever suas ideias chatas aqui no Missões Salém, que não passa de um blog chato.