Por Jony Bigu
Pensar sobre a igreja é algo que
me deixa bem entusiasmado. É sempre bom pensar e refletir sobre o corpo de Cristo.
Quero falar de igreja no sentido bíblico e não no sentido comum e, até mesmo,
equivocado que esse termo tomou.
É bastante comum ouvirmos frases
do tipo: “vamos à igreja hoje”. Outra frase que me deixa um tanto contrariado é:
“de que igreja você é?”. Geralmente, com um sorriso no rosto e um tom de
brincadeira respondo: “eu sou da única igreja que existe, sou da igreja de
Jesus Cristo!”. Mas eu entendo o que as pessoas estão perguntando. Elas querem
saber que instituição religiosa eu frequento. Essa é a principal confusão em
torno do termo igreja.
Igreja é diferente de instituição,
organização, entidade ou qualquer corporação de cunho religioso. As instituições,
organizações e entidades podem até ser igreja, mas o contrário não é
verdadeiro. A igreja está para além do simples ajuntamento de pessoas. Nas palavras de Wayne Jacobsen e Dave Colemam *:
“Igreja é uma palavra que não identifica um local ou uma instituição.
Ela descreve um povo e como os membros desse povo se relacionam uns com os
outros. Quando se perde isso de vista, nossa compreensão da igreja fica
distorcida e deixamos de usufruir a alegria que ela pode nos dar. Jesus não
fala da igreja como um lugar aonde se vai, mas como um modo de viver na relação
com Ele e com os que O seguem.”
Essa questão espacial da igreja
como um local que contém a presença de Deus é algo que está na mente das
pessoas há muito tempo. A construção de um referencial especial é uma forma do
homem expressar poder (discussão sobre o espaço geográfico me deixa
entusiasmado também, mas pode deixar que este geógrafo aqui não vai além disso
neste texto). Na religião, este referencial espacial que contém Deus se
materializou socialmente como o templo.
O homem tem um desejo perene de
Deus. Tê-lo sempre próximo é sinal de segurança e benção. Construir um lugar próximo
que pudesse conter a presença de Deus permanentemente seria ótimo. Eis aí a ideia
de templo de muitas pessoas, de fazer de um Deus sempre em movimento, um Deus
estático e sempre disponível ao desejo delas. Elas querem prender a Plenitude
de tudo dentro de quatro paredes. Trata-se, na verdade, do velho desejo de
controlar ou mesmo domesticar Deus. O grande problema é que não há como
controlar Deus. Ele não se reduz a um templo.
No Israel antigo, o templo foi
usado para controle social de massa. O rei Salomão, sem grande carisma para
guerra, foi um construtor por excelência. Ele foi responsável pela construção
magnífica do templo. À custa de pesados impostos e até de trabalho forçado, o rei
fez com que o esplendor do templo mascarasse a dura cerviz do povo e tudo isso
fosse admitido como devoção. Até mesmo a ostentação do rei em seu palácio era
considerada como manifestação da glória de Deus diante do povo hebreu e de
outras nações. Salomão conseguiu construir o “centro do mundo” tendo domínio do
espaço sagrado e do poder político e econômico. Em outro momento poderemos
discutir uma teologia do templo mais a fundo, mas esse não é nosso propósito
aqui.
O fato é que, ainda hoje, muitos desejam
controlar a divindade. Quem domesticar Deus, restringindo-O a uma organização e
a uma prática religiosa. Tais indivíduos estabelecem um patrão de
relacionamento com o Senhor e se colocam como procuradores dessa divindade. São
essas pessoas que reproduzem a ideia do templo como sinônimo de igreja. E
muitas vezes até nós mesmos reproduzimos essa ideia sem percebemos. Dizemos que
nossa organização é a verdadeira, advogamos em favor de nossas práticas religiosas
e, muitas vezes, esquecemos o que é verdadeiramente ser igreja. Isso mesmo: ser e não pertencer ou frequentar.
Igreja eu sou onde eu estiver me relacionando com Deus e com o meu próximo.
Igreja eu sou em qualquer lugar, porque Deus não está preso numa caixa de
concreto.
Para concluir, deixo uma
indicação de uma boa música do grupo Palavrantiga, da qual sempre lembro quando
estou falando de igreja.
Casa
Deus preferiu
essa carne
Não quis os
templos que eu posso construir
Com minhas
mãos
Me fez casa
Eu sou morada
Lugar de Deus
Que não está
lá fora
Mas sim mora
dentro de mim
Abri a porta
e Ele entrou em casa.
Estou em
obras.
Essa morada
um dia será perfeição!
Deus preferiu
essa carne
Não quis os
templos que eu posso construir
Com minhas
mãos, não!
Me fez casa
Eu sou morada
Lugar de Deus
Que não está
lá fora
Mas sim mora
dentro de mim
A minha
janela são estes olhos que brilham
Uma coisa ela
mostra
Quem a
ilumina é o meu Amado
Mudando as
coisas de lugar
Dentro de
mim, dentro de mim
Eu sou casa
lugar de Deus
Ele habita em
mim
Lá fora é
frio
Lá fora é
medo
É alto de
monte
Deserto,
vazio
Morando em
mim, Tu me aqueces
Me ensina a
ser livre
Santo
Espírito me enche de alegria
Eu sou casa
lugar de Deus
Ele habita em
mim
* Extraído do livro "Porque você não quer mais ir a igreja?"
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