quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

“A Vila Cruzeiro hoje pertence ao estado” Será?


Por Jony Bigu...



O geógrafo Milton Santos afirma que o Estado é um os agentes na formação do espaço. Para os não geógrafos, esse espaço que Milton Santos se referiu trata-se de uma construção social que influencia e é influenciada pelo homem, não se reduzindo ao local palco das ações humanas. Pois bem, a frase que titula esse pequeno texto foi pronunciada pelo subchefe operacional da Polícia Civil do Rio, delegado Rodrigo Oliveira, quando descia da favela após a “conquista”.

Nada mais verdadeiro. A favela é resultado da omissão do Estado quando aos diversos problemas sociais na formação/expansão da cidade. O Estado foi medíocre nas políticas de habitação, educacão e de saneamento básico. A frase do delegado Oliveira assume essa mediocridade até então existentes nas favelas da Vila Cruzeiro e do Complexo do Alemão.

A falta de responsabilidade do Estado possibilitou a criação de crianças órfã não só de pais que morreram na violência nos morros, mas de assistência social básica importante para o seu crescimento. Nesse cenário de abandono, foi oportuno ao tráfico abarcar toda essa gente fragilizada já vítimada de um Estado irresponsável. Jovens que não tinham perspectiva nenhuma nessa vida, transformavam-se em soldado desse poder paralelo e outros que mesmo abandonados, conseguiram se reproduzir socialmente de forma muito precária.
De vez enquanto ouvia alguém dizer: “Na favela só tem bandido, se houvesse cidadão de bem, eles sairiam da favela”. Pessoas com esse pensamento não tem noção nenhuma para entender as contradições presentes na formação da cidade. Elas não apreendem a luta pelo solo urbano, não sabem de nada sobre o déficit habitacional. Ora, como a classe que vive endividada em cartões de crédito pode exigir que pessoas duramente exploradas possam comprar casas onde quiserem? Eles acham que a favela foi a melhor entre as varias opções de possibilidade de moradia que os pobres encontraram? Faça-me o favor...

Sinceramente, não acredito muito na boa vontade desse Estado libertador dos pobres e oprimidos da mão dos traficantes malvados. Até ele sempre foi e nesse modelo sempre será executivo normatizador de uma minoria bem favorecida. Que o Estado assuma sua função ao favor de todos e deixe de ser a milícia executiva da burguesia.

Jony – professor da Rede Pública Estadual que trabalha e mora na periferia.

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