sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Cearense macho - Discurso de Dom Edmilson que rejeitou homenagem do senado

Em protesto contra o reajuste salarial de 61% autoconcedido pelos parlamentares, no último dia 16, o bispo cearense Dom Manuel Edmilson da Cruz recusou a comenda “Direitos Humanos Dom Helder Câmara”, que lhe foi oferecida pelo Senado por indicação do senador Inácio Arruda (PCdoB-CE).

No plenário da Casa, o discurso de Dom Edmilson surpreendeu os senadores, que haviam reservado a manhã de ontem para realizar a sessão de entrega da comenda.





Dom Manuel Edmilson da Cruz
Bispo Emérito da Diocese de Limoeiro do Norte, Ceará


Discurso de Dom Manuel Edmilson da Cruz, Bispo Emérito da Diocese de Limoeiro do Norte - CE, durante a outorga da Comenda de Direitos Humanos Dom Helder Camara, conferida pelo Senado Federal, no dia 21 de dezembro de 2010.

A surpresa chegou aos meus ouvidos à noitinha, quinta-feira 16 de dezembro. Como o alvorecer da aurora e a vibração cantante de um bom-dia. Mais que surpresa: era como se alguém de extraordinária generosidade tivesse enfocado uma libélula projetando a sua leveza e levando-a a atingir as proporções de um águia ou de um condor.

Passa por esse crivo o meu cordial agradecimento ao senhor Senador Inácio Arruda, aos seus ilustres Pares que o apoiaram e a todo Congresso Nacional. Pensei, em vista dos meus oitenta e seis anos, em receber essa honraria por meio de um representante. Mas Congresso Nacional merece respeito. Verdadeiro Congresso Nacional é sinal de verdadeira democracia.

A honrosa condecoração, porém, dos Pais da "Pátria", (como diriam os Romanos "Patres Conscripti"), me faz refletir. Precatórios que se arrastam por décadas; aposentados, idosos com suas aposentadorias reduzidas; salários mínimos que crescem em ritmo de lesmas... depois de três meses de reivindicações e de greves, os condutores de ônibus do transporte coletivo urbano de Fortaleza, dos cerca de 26% de aumento pretendido, mal conseguiram e a duras penas, pouco mais de 6%, quer para a categoria, quer para o povo, principalmente os pobres da quinta maior cidade do nosso Brasil.

Pois é exatamente neste momento que o Congresso Nacional aprova o aumento de 61% dos honorários de seus Parlamentares que em poucos minutos chegam a essa decisão e ao efeito cascata resultante e o impõe ao povo brasileiro, o seu, o nosso povo. O povo brasileiro, hoje de concidadãos e concidadãs, ainda os considera Parlamentares? Graças ao bom Deus há exceções decerto em tudo isso. Mas excetuadas estas, a justiça, a verdade, o pundonor, a dignidade e a altivez do povo brasileiro já tem formado o seu conceito. Quem assim procedeu não é Parlamentar. É para lamentar. Prova disto? Colha na Internet.

Bem verdade é que a realidade não é assim tão simples e a desproporção numérica, um dado inarredável. Já existe - e é de uma grandeza bem aventurada! - o SUS; o Bolsa Família. Aí estão trinta milhões de brasileiros, que da linha de pobreza, às vezes até da indigência, alcançaram a classe média. É verdade a atuação do Ministério da Saúde. Existe o Ministério da Integração Nacional. É verdade! Mas não são raros os casos de pacientes que morreram de tanto esperar o tratamento de doença grave, por exemplo, de câncer, marcado para um e até para dois anos após a consulta. Maldita realidade desumana, desalmada! Ela já é em si uma maldição. E me faz proclamar em pleno Congresso Nacional, como já o fiz em Assembléia Estadual e em Câmara Municipal: Quem vota em político corrupto está votando na morte! Mesmo que ele paradoxalmente seja também uma pessoa muito boa, um grande homem. Ainda não do porte de um Nelson Mandela que, ao ser empossado Presidente da República do seu país, reduziu em 50% o valor dos seus honorários.
Considerações finais

Senhores e Senhoras,
Sinto-me primeiro, perplexo; depois, decidido. A condecoração hoje outorgada não representa a pessoa do cearense maior que foi Dom Helder Camara. Desfigura-a, porém. Sem ressentimentos e agindo por amor e por respeito a todos os Senhores a Senhoras, pelos quais oro todos os dias, só me resta uma atitude: recusá-la! Ela é um atentado, uma afronta ao povo brasileiro, ao cidadão, a cidadã contribuintes para o bem de todos com o suor de seu rosto e a dignidade do seu trabalho. É seu direito exigir justiça e eqüidade em se tratando de honorários e de salários. Se é seu direito e eu aceitar, estou procedendo contra os Direitos Humanos. Perderia todo o sentido este momento histórico. O aumento a ser ajustado deveria guardar sempre a mesma proporção que o aumento do salário mínimo e da aposentadoria. Isto não acontece. O que acontece, repito, é um atentado contra os Direitos Humanos do nosso povo.

A atitude que acabo de assumir, assumo-a com humildade. A todos suplico compreensão e a todos desejo a paz com os meus sinceros votos e uma oração por um abençoado e Feliz Natal e um próspero e Feliz Ano Novo!

DEUS SEJA BENDITO PARA SEMPRE.

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Um presente de Deus...




Um garoto queria receber de Deus um presente de natal, resolveu lhe escrever uma carta. Ele pegou um papel e uma caneta e começou escrevendo: Deus, eu sou um filho obediente,... como não era verdade ele rasgou o papel e pegou outro. Neste ele escreveu: Deus,eu sou um aluno estudioso... como não era verdade, ele resolveu jogar fora e pegar outro. Neste ele escreveu, Deus: o Senhor sabe que eu sou um menino caprichoso... como não era verdade, ele resolver jogar fora o papel de novo. Depois de vários inícios tentando escrever da melhor forma para Deus e querendo ser verdadeiro, o menino parou olhou para o lado e viu um presépio. Então teve uma idéia, foi até o presépio, pegou o menino Jesus e colocou no bolso. Sentou novamente com um novo papel e caneta, e escreveu: Deus, acabei de seqüestrar o seu filho, se quiser tê-lo de volta, é só pagar o resgate.


Há pessoas que são como esse garato, olham para si mesmas e não encontram um motivo se quer que poderia levar Deus a abençoa-las, o que muito esquecem é que o significado da palavra graça é “favor que não merecemos”.
Fonte: www.amofamilia.com.br

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

“A Vila Cruzeiro hoje pertence ao estado” Será?


Por Jony Bigu...



O geógrafo Milton Santos afirma que o Estado é um os agentes na formação do espaço. Para os não geógrafos, esse espaço que Milton Santos se referiu trata-se de uma construção social que influencia e é influenciada pelo homem, não se reduzindo ao local palco das ações humanas. Pois bem, a frase que titula esse pequeno texto foi pronunciada pelo subchefe operacional da Polícia Civil do Rio, delegado Rodrigo Oliveira, quando descia da favela após a “conquista”.

Nada mais verdadeiro. A favela é resultado da omissão do Estado quando aos diversos problemas sociais na formação/expansão da cidade. O Estado foi medíocre nas políticas de habitação, educacão e de saneamento básico. A frase do delegado Oliveira assume essa mediocridade até então existentes nas favelas da Vila Cruzeiro e do Complexo do Alemão.

A falta de responsabilidade do Estado possibilitou a criação de crianças órfã não só de pais que morreram na violência nos morros, mas de assistência social básica importante para o seu crescimento. Nesse cenário de abandono, foi oportuno ao tráfico abarcar toda essa gente fragilizada já vítimada de um Estado irresponsável. Jovens que não tinham perspectiva nenhuma nessa vida, transformavam-se em soldado desse poder paralelo e outros que mesmo abandonados, conseguiram se reproduzir socialmente de forma muito precária.
De vez enquanto ouvia alguém dizer: “Na favela só tem bandido, se houvesse cidadão de bem, eles sairiam da favela”. Pessoas com esse pensamento não tem noção nenhuma para entender as contradições presentes na formação da cidade. Elas não apreendem a luta pelo solo urbano, não sabem de nada sobre o déficit habitacional. Ora, como a classe que vive endividada em cartões de crédito pode exigir que pessoas duramente exploradas possam comprar casas onde quiserem? Eles acham que a favela foi a melhor entre as varias opções de possibilidade de moradia que os pobres encontraram? Faça-me o favor...

Sinceramente, não acredito muito na boa vontade desse Estado libertador dos pobres e oprimidos da mão dos traficantes malvados. Até ele sempre foi e nesse modelo sempre será executivo normatizador de uma minoria bem favorecida. Que o Estado assuma sua função ao favor de todos e deixe de ser a milícia executiva da burguesia.

Jony – professor da Rede Pública Estadual que trabalha e mora na periferia.