sábado, 25 de agosto de 2012

O Sal da Terra e o Político Crente


Por Marcelo Lemos

Estamos em mais um ano eleitoral. Mais um ano, no qual, muitos de nossos púlpitos são arrendados para políticos ‘simpatizantes’ dos evangélicos, e candidatos das nossas agremiações. As Eleições são capazes de fazer ‘milagres’. Por exemplo, ainda que o pastor do Ministério “B” jamais ceda seu púlpito para um pastor do Ministério “A”, ele fará graciosamente uma concessão ao político “Y”, ainda que este tenha recebido um ‘passe’ de ‘pai de santo’ horas antes... E, não pense o querido leitor, que nos falte bases teológicas que justifiquem tal engajamento!

Por exemplo, poderá o pastor argumentar que Cristo nos chamou para ser “sal da terra e luz do mundo”. Essa justificativa teológica para o engajamento político é um clássico! Mas, será que tais palavras de Cristo podem ser usadas deste modo? Antes de responder essa questão, preciso abrir um parêntesis.

Eu gosto de Política. Acredito que enquanto repetimos chavões como “não gosto de política” ou “o política é igual futebol: não se discute”, simplesmente facilitamos a vida de oportunistas, inclusive o tipo que pretendemos expor nesse artigo. Gosto e faço política. Nem mesmo sou contra que cristãos sejam candidatos e governantes. Nem mesmo sou contra que líderes cristãos assumam cargos eletivos – ainda que seja recomendado tirar uma licença ministerial neste caso. Enfim, o dever do cristão de participar da vida pública de sua nação não está em discussão neste texto. Dito isto, prossigamos!

Quando Cristo disse que devemos ser “sal da terra e luz do mundo”, não tinha em mente que conquistássemos cargos políticos e posições na sociedade. Na verdade, Cristo tinha em mente que os cristãos vivessem para Deus, de modo santo, mesmo que para isso fosse necessário aceitar serem excluídos da sociedade, e algumas vezes, perseguidos por ela. Fugir dessas implicações é pisar o sangue dos cristãos primitivos! Se não estamos dispostos a entrar com pés e mãos atados nos Coliseus da modernidade, se não estamos prontos servir de tocha humana nos jardins dos Cezares de hoje, também não estamos prontos para sentarmo-nos à mesa do Concílio de Calcedônia!

Quanto a Igreja, saindo vitoriosa das perseguições imperiais, e reuniu-se em Calcedônia, não o fez com carruagens e pompas. Encontraremos ali homens de Deus, de todo o mundo, que haviam enfrentado leões em suas covas. Facilmente nos esquecemos de que a maioria dos bispos ali reunidos havia sido perseguida, presa e torturada; e muitos deles estavam literalmente mutilados! Mas, aqueles farrapos humanos deixaram o mais emocionante testemunho que a História já conheceu: as portas do Inferno não prevalecerão, jamais!

Infelizmente, vemos que, hoje, quando o cristão chega ao poder, não é como “sal da terra e luz do mundo”, mas como coisa insípida, sem nenhum sabor! O mais triste de tudo é que, justamente a Igreja, que deveria ser celeiro de uma mudança radical para o nosso País, tem, na verdade, se conformado e moldado ao mundo.

Para que possamos ser “sal e luz” na política, e na sociedade como um todo, é preciso que antes tenhamos uma teologia que seja “sal e luz” em nossas próprias vidas.